CONFEDERAÇÃO DO DESPORTO DE PORTUGAL
Ainda antes de entrarem no tapete para competir, os judocas têm de vencer um "adversário" que, para muitos, é temível: o peso. Numa modalidade repartida por categorias de peso, tê-lo sob controlo é essencial, até porque a maioria compete na... mais baixa possível. Como as cargas de treino aumentam os índices de massa muscular - natural numa modalidade em que a força é um dos principais vectores -, os judocas acabam por viver períodos em que manter o peso baixo é o maior dos desafios, acabando muitos por, ao fim de alguns anos, ascender a uma categoria superior.

A poucos dias dos Jogos Olímpicos, a preparação dos atletas nacionais é intensa. Depois do Campeonato da Europa de Lisboa, a Selecção Nacional tem realizado diversos estágios, alguns deles de competição, como o que actualmente fazem em Faro. Nessas provas, a vice-campeã mundial Telma Monteiro tem realizado combates em 57 kg, sendo que, em Pequim, vai medir forças com as atletas de 52 kg. A jovem é das que mais sofrem com as perdas de peso, pois tem alturas em que a balança chega a marcar 58,5 kg. Actualmente, a melhor judoca portuguesa pesa cerca de 55 kg, mas ainda não está a fazer dieta.

"Estou a fazer um controlo para não passar dos cinco quilos a mais na minha categoria. Assim, quando chegar a altura dos Jogos, o desgaste será menor", afirma. Apesar desse cuidado, há uma guloseima que a judoca do Benfica não dispensa, nem durante as cinco semanas (período da sua perda de peso) que vão anteceder a pesagem em Pequim. "Como sempre chocolates, mesmo que esteja a perder peso", atira, sorrindo.

Para o treinador nacional feminino, Rui Rosa, os judocas são profundos conhecedores das questões relativas ao peso. "Todos eles sabem os sacrifícios por que passa um judoca de alta competição. Muitas vezes, o judo obriga a privações, entre as quais a água e a comida", refere. "É dramático, se pensarmos que ficam sem comer ou beber durante muito tempo, mas eles sabem as dificuldades de manter uma categoria de peso. Por vezes, é bastante desgastante, mas também é gratificante, quando se obtêm resultados", completa.

Telma com cem gramas a mais
Em 2004, aquando das pesagens para o torneio Super A de Paris, Telma Monteiro apanhou um valente susto com o seu peso. "Era uma prova muito importante, e estava com cem gramas a mais. Tive de andar por lá a correr para perder o peso em excesso. Fiquei um bocado nervosa, mas a partir daí nunca mais aconteceu. Serviu-me de lição", revela Telma. Quanto a Paris, a verdade é que esse percalço poderá tê-la prejudicado, já que perdeu logo no primeiro combate.

Mudar sem correr riscos
As constantes perdas de peso fazem com que, em determinadas alturas, os judocas decidam passar para outra categoria de peso. Isso vai acontecer com Telma Monteiro, que, depois dos Jogos Olímpicos, se vai mudar para a categoria de -57 kg. Esta é uma situação normal, e a judoca do Benfica não será caso único. João Neto (na foto) competiu praticamente desde júnior em 73 kg, categoria em que alcançou o terceiro lugar no Mundial de Osaca'2003 e a sétima posição em Atenas'2004. Posteriormente, passou a competir em 81 kg, e os bons desempenhos mantiveram-se. Prova disso foi o triunfo no Europeu de Lisboa, na nova categoria. O olímpico João Pina e Joana Ramos são outros exemplos de mudanças de categoria sem grandes oscilações de resultados. Para Rui Rosa, é um processo natural. "Mudar de peso faz parte da evolução da carreira. Só têm de adaptar o corpo e o judo a uma nova realidade", diz.

Fonte: O Jogo 08/07/2008

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