CONFEDERAÇÃO DO DESPORTO DE PORTUGAL
Isabel Santos, mãe de João Paulo Fernandes, manifestou-se hoje "maravilhada" com a conquista da medalha de ouro pelo filho no torneio de Boccia dos Jogos Paralímpicos de Pequim2008, após quatro anos "duros, de muita luta", para o ajudar a treinar.

"Foi uma maravilha. Nem há palavras, como ele disse na televisão. Foi bom demais", afirmou Isabel Santos à Agência Lusa, depois da conquista de João Paulo Fernandes, que revalidou o ouro conquistado em Atenas, após bater na final de Boccia BC1 o compatriota António Marques, medalha de prata.

Isabel Santos disse que viu "tudo em directo", depois de acordar às 2:00 da manhã para ver um jogo, que não conseguiu "porque não transmitiram", mas depois viu a final e as medalhas em directo e esteve sempre confiante no triunfo do filho.

"Tanto era que o João começou logo a ganhar logo do princípio. O António só fez um ponto no último parcial. O João no primeiro parcial fez dois, depois fez dois e depois fez quatro e no último é que o António fez um. Mas nervosa estava na mesma", explicou.

Questionada sobre se a medalha de ouro de Pequim tinha mais valor que a de Atenas, como o filho tinha dito após a conquista de hoje, Isabel Santos respondeu que sim e explicou porquê.

"Estou igual a ele, esta ainda sabe melhor porque a gente não estava a contar. Em Atenas parece que já estávamos mais à espera, mas agora têm sido difíceis os treinos, temos passado por fases difíceis, o João tem andado bastante nervoso e estava bastante nervoso antes de ir e não estava mesmo à espera. Disse-lhe para fazer o melhor e que fosse até onde pudesse. E graças a Deus ele foi", disse.

Isabel Santos deu "sempre" apoio a João para começar na prática desportiva e recorda os primeiros tempos, em que quebrar o laço materno foi complicado: "Ele era muito apegado a mim. Quando ia para estágios para jogar chorava. Ele queria ir, mas queria que a mãe também fosse. Mas agora já recuperou dessa fase".

E terminou dizendo que "é muito difícil" ter o atleta paralímpico a treinar, pois mora em Vale de Cambra e pratica a modalidade no Porto, a 55 quilómetros de distância, o que eleva os custos, num país em que os apoios estão dependentes do que João Paulo consiga fazer em campo.

"É muito difícil. Eles não têm apoios praticamente nenhuns. A gente mora a 13/14 quilómetros ainda de Vale de Cambra e depois é a viagem de Vale de Cambra ao Porto. O João não pode conduzir. Tem carro dele, mas quem o conduz sou eu ou depende de terceiro para conduzir. E eu tive de deixar de trabalhar desde Janeiro até agora para o levar ao Porto, todos os dias. E depois ao preço que o gasóleo estava...", recordou.

Isabel Santos sublinhou que tinha "de pagar a prestação da casa, todas as outras coisas e mais o gasóleo em cima" e isso "foi mesmo muito, muito difícil".

"O João agora conseguiu as medalhas e está a ser muito apoiado. Quando conseguiu as medalhas em Atenas foi muito apoiado, mas entretanto se não conseguir mais medalhas o João é esquecido. Na hora das medalhas o João é o menino de ouro, mas depois esteve quatro anos sem medalhas de ouro e entretanto as pessoas começam a esquecer e fico eu com o João, sozinha, a lutar", concluiu.

Fonte: Lusa 09/09/2008