O português Rui Costa sagrou-se campeão mundial de fundo, batendo ao sprint o espanhol Joaquín Rodríguez, no final dos duríssimos 272,3 quilómetros, que ligaram Lucca a Florença.
O corredor natural da Póvoa de Varzim deu mais uma demonstração de qualidade e de extrema inteligência na leitura da corrida. Esperou pela última volta para jogar a sua cartada. Na subida de Fiesolo saiu do grupo dos favoritos na companhia dos espanhóis Alejandro Valverde e Joaquín Rodríguez, do italiano Vincenzo Nibali e do colombiano Rigoberto Úran. Este caiu numa descida e ficou arredado da luta pelas medalhas.
Nos últimos 7 quilómetros, Rui Costa soube aproveitar a luta entre os espanhóis e o italiano, saltando no encalço de Joaquín Rodríguez já depois de passada a subida de Via Salviati, alcançou-o no último quilómetro e foi mais forte na luta pela camisola arco-íris. O terceiro, a 16 segundos foi Alejandro Valverde.
“Tive de dar tudo de mim para fechar o espaço para o Joaquín Rodríguez. Quando encostei, ele disse ‘passa’. Mas, nesse intervalo, olhei para trás e vi que tinha tempo para poder gerir e respirar, de modo a guardar as forças todas que ainda me restavam para o sprint final. Sabia que se as minhas pernas não falhassem – como não falharam – podia ganhar ao Joaquín Rodríguez”, explicou Rui Costa em conferência de imprensa.
A prova foi disputada debaixo de um terrível temporal, que apenas amainou nas últimas duas voltas. “Foi um mundial muito complicado. Partimos já com chuva e nas primeiras três horas de corrida choveu muito, muito. Tive altos e baixos. Houve momentos em que não tinha as melhores sensações, mas, na parte final, a cada volta ia-me sentindo melhor. Já na última volta, na penúltima subida, quando olhei para trás e vi que só íamos cinco corredores acreditei mais nas boas condições que trazia hoje”, conta o novo campeão mundial de fundo.
O seleccionador nacional, José Poeira, era um homem feliz no final da corrida. “Hoje é um dia histórico. Pela primeira vez, ao fim de muitos anos de trabalho a perseguir este título, finalmente conseguimo-lo. Já conquistáramos outras medalhas, até uma medalha olímpica, mas ser campeão do mundo nunca tinha acontecido”, recorda o técnico.
O presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo, Delmino Pereira, disse que esta vitória “é algo de fantástico para o desporto português e vem premiar um corredor de excelência. Muitas opiniões consideraram este o mundial mais duro de todos os tempos. A forma inteligente e a classe com que foi disputado foi apaixonante e deliciou todos os amantes do ciclismo”.
“Conheço o Rui Costa desde menino. Eu e a Federação ajudamo-lo em tudo o que podíamos e ele reconhece isso, porque é daquelas pessoas que não tem cabeça só para correr. Mas não basta ter cabeça, é preciso ter pernas e coração. E o Rui Costa tem. É um campeão, foi sempre!”, emocionou-se Artur Lopes, presidente da Mesa da Assembleia Geral e ex-presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo.
A Seleção Nacional/Liberty Seguros esteve também representada nesta prova por Tiago Machado e por André Cardoso.
Este desistiu na primeira das dez voltas ao circuito de Florença, depois de ser vítima de duas quedas. “Fisicamente estou bem, apenas um pouco desiludido pela minha primeira desistência em Campeonatos do Mundo, porque não é do meu feitio desistir, mas teve mesmo de ser. No entanto, alegro-me por ter tomado parte neste marco histórico do ciclismo português”, disse André Cardoso.
Tiago Machado concluiu a competição no 36.º lugar, a 2m01s do compatriota que subiu ao lugar mais alto do pódio. “A minha prova é o menos importante. Éramos três portugueses a lutar contra as grandes potências e fomos nós os vencedores. O Rui provou mais uma vez que é um grande corredor. Estou muito feliz e orgulhoso de ter feito parte desta equipa”, confessou Tiago Machado.
A dificuldade desta prova é espelhada pelo facto de apenas terem conseguido terminar 61 dos 208 corredores que partiram de Lucca.
Fonte: UVP/FPC, 29/09/2013