CONFEDERAÇÃO DO DESPORTO DE PORTUGAL
Francis Obikwelu era um jovem africano pobre, mas o seu talento nas pistas, somado a "muito trabalho e sofrimento", como gosta de dizer, valeram-lhe a fama e uma vida melhor. A sua actual preocupação, e porque não esquece o passado, é evitar que outros talentos como ele se percam.

Ontem, num dos modernos pavilhões de Vila Nova de Gaia, a fundação com o seu nome tentou garantir o futuro de alguns. Cerca de 200 jovens, praticantes de atletismo, futebol, basquetebol, ténis e natação, inscreveram-se para serem testados pelo medalhado olímpico de Atenas e por alguns dos seus amigos igualmente talentosos: Sérgio Ramos, acabado de se sagrar campeão nacional de basquetebol pelo Benfica, Nuno Marques, tenista que já brilha como treinador, Simão Morgado, ainda olímpico nas piscinas, e Tiago Lopes, responsável pelas escolas do Manchester United em Portugal. No atletismo estava ainda Bernardo Manuel, treinador do Sporting.

Repartidos por cinco locais, os jovens fizeram testes simples durante a manhã, sendo os melhores enviados depois para uma entrevista com um psicólogo. "Ter talento como atletas não chega. A personalidade também é decisiva", explicou Renato Pais, da Fundação Obikwelu. É que aos dois melhores estava destinada uma bolsa de cinco mil euros, a ser entregue para "as necessidades mais prementes da sua formação".

Dos testes físicos e técnicos saíram 21 finalistas, que esperaram pela tarde para conhecer o vencedor. "Haverá dois escolhidos, mas todos vocês ganharam", disse-lhes José Guilherme Aguiar, da Câmara Municipal de Gaia, antes de revelar os nomes de Soraia Vasconcelos (atletismo) e Francisco Caldas (ténis) como primeiros Talentos Escondidos. Ao prémio em dinheiro vai juntar-se um acompanhamento especial, enquanto não chegam os vencedores a Sul (em Agosto) e Centro (Setembro).

"Se tivesse mais dinheiro daria bolsas a todos"
"Não lhes dei só o cheque, agora vou acompanhá-los", comentou Francis Obikwelu após a escolha final, garantindo que "se tivesse dinheiro daria bolsas a todos". Sentindo ter uma nova vocação, o sprinter explica que "alguns deles vão explodir mais tarde e aqui tivemos de escolher também pela ambição que mostraram". "Espero que isto tenha sido um empurrão para todos, pois só no atletismo havia quatro muito bons e foi muito difícil fazer uma escolha", garantiu.

A atleta que faz de tudo
Soraia Vasconcelos tem 14 anos, pratica atletismo desde os 6 e alinha em competições pelo Avintes, um dos clubes nortenhos que mais talentos descobre, sobretudo na marcha. "Já fui vice-campeã nos juvenis", lembra ela, sobre a mais recente prova de 5 km marcha. Garantindo que no atletismo faz "de tudo, menos salto com vara", diz gostar ainda do "lançamento do dardo, onde já tenho 22,54 metros". Ontem não pensava ganhar, mas desconhecia que o seu sonho foi decisivo: "Quero ir aos Jogos Olímpicos. Não sei se na marcha se no dardo...".

Veio de Itália para ganhar
O jovem Francisco Caldas chegou a correr de Lecce (Itália), onde esteve na segunda ronda de um torneio de sub-12 e chegou às meias-finais de pares. "Aqui ganhei por acaso, pois não pensava poder vir. Estava inscrito, mas só uma troca de voo permitiu chegar a tempo", contou o tenista do Clube de Ténis de Braga, que joga desde "os sete ou oito anos" e sonha ser um novo Boris Becker. Uma escolha tão específica destacou-o, depois de ter trocado umas bolas "com um amigo", sob o olhar de Nuno Marques, que "ainda não conhecia".

Fonte: O Jogo 07/06/2009