CONFEDERAÇÃO DO DESPORTO DE PORTUGAL
O triunfo e o registo (2h26m03s) conseguidos na Maratona de Sevilha colocaram Marisa Barros no topo das melhores portuguesas de sempre, só ultrapassada por Rosa Mota e Manuela Machado. Mesmo tendo 17 anos de atletismo, ela continua deslumbrada e numa fase de paixão pela maratona.

Só Rosa Mota e Manuela Machado têm melhores tempos do que o seu na maratona. Qual é a sensação?

Muito boa. Fiquei contente por me aproximar das melhores. São referências de quando eu era criança. A Manuela nem tanto, mas a Rosa era a minha referência quando andava no ciclo preparatório. Aliás, foi ela que me entregou a primeira taça e já era campeã olímpica. Saber que só mesmo elas estão, para já, à minha frente, é muito bom.

Diz "para já"... Acha que vai fazer ainda melhor?
Não… Bem, da maneira que corri e consegui a marca, talvez possa fazer ainda melhor. Pelo menos da Manuela estou próxima; a Rosa está num outro patamar. O "para já" quer dizer que outras atletas vão fazer a maratona. Tal como eu fiz esta marca, pode lá chegar mais alguém.

Na sua carreira notam-se progressos até júnior e depois um decréscimo...

Em júnior passei uma fase menos boa, porque iniciei uma actividade profissional. Agora compreendo bem porque as coisas corriam mal. Só fiz o nono ano e fui trabalhar para uma confecção, oito horas por dia… Tinha sempre força para treinar, mas os resultados pioraram.

Começou a trabalhar com que idade?
Aos 15 anos.

Esteve nessa fábrica quanto tempo?
Oito anos.

Até há bem pouco, portanto...
Até 2003, e ainda estava no Braga. Foi então que pensámos melhorar a minha vida. Como casei e estava no Braga, estudámos uma estratégia de treino, para poder evoluir. Passei a treinar duas vezes por dia. De manhã, às seis horas, em vez de ir de autocarro trabalhar, ia a correr de casa até à terra da fábrica e onde a minha sogra morava. Tomava banho em casa dela e ia trabalhar. À tarde voltava a treinar.

Teve resultados?
Nesse ano fui segunda nos Nacionais, atrás da Jessica Augusto. Mas passava a vida lesionada. Em 2003 deixei a fábrica e, pensando que ia levar uma vida melhor, fui trabalhar para Braga, num part-time de cinco horas diárias num snack-bar, trabalhando ao sábado também. Como vivi sempre em Paços de Ferreira, ia de manhã para Braga e só regressava por volta das 22 horas… Em 2005, o Braga ficou sem motorista e fiquei com o lugar. Por isso, saía de casa às sete da manhã e chegava muitas vezes perto da meia-noite!

Quando acabou essa vida?
Só em 2007, quando o António Ascensão me disse para arriscar e que me ajudava.
"Tive de levar o meu irmão para conseguir fazer atletismo"

Como começou a praticar atletismo?
Como muita gente, iniciei a actividade na escola preparatória, em Freamunde, em 1992. Participei nos corta-matos do quinto e sexto anos. Como fui campeã, ganhei logo o gosto pela corrida. Os meus pais não me deixaram prosseguir, dizendo que só depois de terminar a escolaridade obrigatória - na altura era o sexto ano - é que poderia praticar atletismo.

A partir de quando o fez?
No fim do sexto ano. Havia um grupo lá na terra que tinha treinador, o senhor Ricardo... Mas tive de levar o meu irmão mais velho, porque era a única rapariga do grupo e naquela altura não era fácil uma rapariga treinar só com rapazes.

Quando teve um clube?
Um ano depois fui para o clube da terra, o Leões da Citânea de Sanfins, de Paços de Ferreira, onde só estive uma época. Dei nas vistas a ganhar provas de estrada e o Vizela interessou-se por mim. Na época seguinte transferi-me para lá.

Melhorou a partir daí?...
Sim, comecei a treinar mais especificamente e a participar em provas federadas.

Os seus pais mudaram de opinião?
Sim, embora o meu irmão tivesse de continuar a acompanhar-me. O meu pai passou a levar-me às competições. Tentei envolver a minha família no atletismo para ser mais fácil.

Fonte: O Jogo 02/04/2009