CONFEDERAÇÃO DO DESPORTO DE PORTUGAL
O seleccionador nacional, o sueco Mats Olsson, rejeitou hoje a ideia de ter fracassado na renovação da equipa nacional, apesar de reconhecer que a selecção atravessa a pior crise de resultados dos últimos 15 anos.

Em entrevista à Lusa, Olsson disse que não sente o lugar ameaçado pelos insucessos recentes e negou que o antigo conflito entre a federação e liga sirva de explicação para "o atraso no andebol português", mas lamentou "a falta de qualidade da liga portuguesa".

"Foi um momento dramático, claro. Os jogadores estavam destroçados, porque este grupo quer demonstrar o seu valor. Por isso, muitos deles ficaram no chão, a chorar", explicou o seleccionador, no rescaldo da eliminação na corrida ao Mundial de 2009, imposta pela Macedónia.

Apesar do desaire, Olsson acredita que a selecção lusa "está no bom caminho", lembrando "as vitórias recentes sobre a Suíça e a Bósnia, duas equipas que estão apuradas para os 'play-offs'", aproveitando para explicar o lance que ditou o afastamento prematuro do Croácia2009.

"O David Tavares e o Ricardo Costa são os jogadores com mais experiência na equipa, mas o Ricardo Costa tinha falhado anteriormente. Perguntei qual deles se sentia mais confiante e nesse momento o David Tavares disse-me que marcava. Não tive dúvidas", precisou, em alusão ao livre de sete metros falhado nos segundos finais.

O treinador sueco lembrou que Portugal possui uma equipa jovem e acredita que o "futuro está assegurado", mas lamentou a "falta de experiência internacional", agravada pelos afastamentos das três últimas grandes competições - Mundiais de 2007 e 2009 e Europeu de 2008.

"Jogámos 120 minutos contra a Macedónia e perdemos por um golo no último momento. No ano passado perdemos com o Montenegro, que ficou entre os 12 melhores, mesmo jogando sem quatro jogadores titulares", sustentou o técnico, que denunciou a falta de competição ao mais alto nível nos clubes.

Olsson recordou que "este ano só o FC Porto e o Benfica continuam nas competições europeias" e os lisboetas disputam a Taça Challenge, "a quarta prova europeia, sem muito nível", o que "significa que os jogadores não conseguem ganhar experiência internacional através dos clubes".

"Em Portugal temos uma liga muito equilibrada, e isso é positivo, mas acho que falta um pouco de qualidade. Não temos muitos jogadores de grande nível. Espero também que os clubes contratem jogadores estrangeiros de categoria, porque são precisos modelos para os jovens", defendeu o treinador.

Olsson advertiu que "a selecção necessita de jogos de grande nível na liga", considerando que "é a única forma de evoluir, como acontece na Dinamarca", nova campeã europeia: "Há muito tempo que digo que o exemplo a seguir é a Dinamarca", frisou o sueco, sem esconder que Portugal atravessa a maior crise de resultados dos últimos 15 anos.

"Não podemos negá-lo, porque é a primeira vez que não conseguimos ir aos 'play-offs'. Mas a concorrência hoje em dia é maior que há 15 anos. Surgiram novos países, como a Macedónia e o Montenegro, que já nos eliminaram e antes não existiam", sustentou, em referência à desagregação da Jugoslávia e União Soviética.

Olsson entende que Portugal está "melhor hoje do que há 15 anos, mas os adversários também" e que "a geração de Carlos Resende não conseguiria repetir o sétimo lugar do Europeu da Croácia (em 2000)" no recente Campeonato da Europa de 2008, da Noruega.

"Os jogadores que hoje integram a selecção principal nunca disputaram um Mundial de juniores. Estamos a exigir a jogadores que nunca ganharam nos escalões de formação o façam agora", explicou, advertindo que "se um país não consegue qualificar-se ao longo de 12 anos (para o Campeonato do Mundo de juniores)", alguma coisa falhou".

Olsson considerou "excessivo falar em fracasso", mas admitiu que "a federação tem o direito de avaliar o desempenho, dizer que não foi feito o suficiente e que o treinador deve ir-se embora", adiantando que também sairá se os jogadores lhe retirarem a confiança.

"Quando aceitei o cargo, se a federação me tivesse dito: 'Ouve Mats, temos que nos apurar para estas competições', isso significaria que não teriam conhecimento suficiente da realidade do andebol internacional e das capacidades de Portugal. Aí, poderia dizer que tinha sido um fracasso e que o lugar estava ameaçado", justificou.

O sueco explicou que procurou "modernizar" o andebol praticado pela selecção, mas lamentou que os jogadores que agora compõem a equipas das "quinas" vivam "à sombra" da geração liderada por Carlos Resende, o melhor jogador português de sempre.

"Podemos comparar Portugal e Suécia. A diferença é que a Suécia luta pelas medalhas e Portugal é uma equipa de nível médio. Eles demoraram seis anos para regressar ao seu nível e nós estamos apenas no terceiro. Espero que não demore tanto tempo", antecipou o treinador nacional.

Uma "desculpa" que Olsson recusa usar é a guerra travada entre a federação e a liga, que deixou a modalidade estagnada durante mais de um ano, apesar de a selecção ter jogado várias vezes "com jogadores que actuavam apenas na competição da federação".

"Os conflitos nunca são bons. Mas acho que muita gente procura refugiar-se no conflito para explicar o atraso no andebol português. Apesar do conflito, também não se trabalhou bem nestes anos", acusou o técnico nórdico.

Considerado um dos melhores guarda-redes de sempre, o antigo internacional sueco, rebateu as críticas de falta de experiência, lembrando que trabalha na federação portuguesa desde 2001, primeiro como treinador de guarda-redes do seleccionador Garcia Cuesta e depois como adjunto do técnico espanhol.

"Eu também posso argumentar que não há muitos treinadores que tenham experiência de jogar de alto nível. Isso eu tenho e falta a muitos deles. Sei perfeitamente o que um jogador sente, como quer ser tratado. Isso tem mais valor do que ter sido treinador principal antes de entrar na selecção", sustentou.

Fonte: Lusa