A dissolução da Assembleia da República, que sucedeu à demissão do Ministro do Desporto, Henrique Chaves – numa altura em que se criara no movimento associativo alguma expectativa em face da «elevação» do desporto à categoria de área ministeriável –, poderá ter consequências nefastas para o actual contexto politico-desportivo nacional, nomeadamente na aplicação do Orçamento de Estado para 2005. E esta torna-se, por isso, a principal preocupação da Confederação do Desporto de Portugal (CDP), como revela o seu presidente, Carlos Cardoso, ao ND: “Temos esperança que o Orçamento seja aprovado na segunda-feira, para não haver atrasos como os verificados este ano, em que os contratos-programa para a alta competição só foram assinados em Junho/Julho, o que criou grandes problemas às maiores Federações”.
No entanto, outras implicações poderá ter também, no desporto, o actual panorama político nacional, como na urgente definição estratégica do que se pretende para o desporto português para os próximos anos e ainda no o das grandes decisões que estão associadas à regulamentação da Lei Quadro do Desporto, cujo prazo que a própria lei encerra para a sua efectivação se aproxima do fim.
“E o movimento associativo ainda não foi chamado para participar em qualquer discussão respeitante à Lei de Bases”, acrescenta Carlos Cardoso.
Ministério pode não ser solução
Carlos Cardoso não afirma peremptoriamente que esta seja a prova do desrespeito da classe política pelo desporto, mas concorda que as sucessivas alterações governamentais têm contribuído para o permanente adiar de um desporto de qualidade: “Sentimos que o desporto sofreu apenas uma mini-remodelação – sem colocar Henrique Chaves em causa –, uma remodelação menor, ainda para mais por parte de um ministro que queria sair do Governo”.
Facto é que tudo isto poderá significar um retrocesso no reconhecimento do fenómeno desportivo no contexto estratégico do governo, que não quer dizer que possa ser resolvido com a criação de um Ministério do Desporto.
“Durante muitos anos, o desporto esteve incluído no Ministério da Educação, depois passou a ser gerido pelo ministro-adjunto do Primeiro Ministro. Funcionou bem com uns, pior com outros… Quando existiu um Ministro do Desporto, e desta vez, foi o que se viu! Foi catastrófico. O problema do desporto é transversal. Um ministro a gerir o desporto dentro de outro ministério teria dificuldades, junto do Primeiro Ministro poderia ter alguns privilégios. Mas o ideal seria, sem dúvida, um ministério. Mas isso depende das pessoas e das vontades”, aponta.