A CDP Entrevista regressou, para mais uma sessão onde o desporto assumiu um papel preponderante na prospeção do turismo e da economia em Portugal.
Sob o tema: “Desporto e Turismo, parceria de sucesso?”, o debate contou com as presenças de Vítor Pataco, Presidente do Instituto Português do Desporto e Juventude, Luís Araújo, Presidente do Turismo de Portugal e Carlos Baptista, Presidente da Federação Portuguesa de Pesca Desportiva.
Numa altura em que se começa a pensar em iniciativas para atrair os turistas ao país, assim que os efeitos da pandemia o permitam, discutiu-se os benefícios que esta fusão traz para Portugal.
Na perspetiva de Vítor Pataco, o negócio do desporto visa combater a inatividade física, e preparar os atletas no caminho até chegarem a um panorama internacional, como são as grandes competições, com repercussões no turismo. «O desporto na verdade, movimenta pessoas e essa movimentação está sempre associada a alguns aspetos que estão muito ligados ao turismo, nomeadamente os alojamentos, as viagens, as pessoas, e essa conexão que existe com o turismo, não apenas por aquilo que é a atividade normal, mas também quando se organizam torneios internacionais por exemplo, estamos preocupados com a natureza desportiva desses eventos, mas naturalmente se eles têm impacto económico, social e turístico». O Presidente do IPDJ reconheceu que ainda há muito caminho a percorrer, embora o primeiro contato já tenha sido estabelecido. «Existe uma sinergia, ou um potencial de sinergia muito grande entre turismo e desporto. Aliás, a própria Organização Mundial do Turismo disse a determinada altura que, o turismo e o desporto são os dois fenómenos sociais no século XXI que mais pessoas mobiliza em todo o mundo», reconheceu o Presidente do Turismo de Portugal. Luís Araújo acredita que o país deve seguir o exemplo de Espanha e estruturar a oferta para aumentar a competitividade do turismo internacional. «Há de facto um peso importante do turismo desportivo naquilo que é a componente de receitas por parte do setor turístico».
Por seu lado, Carlos Baptista vê neste casamento uma união quase perfeita, pecando apenas pela falta de espaços de competição no interior, aproveitando a ocasião para mostrar a Luís Araújo o bom que Portugal tem, e que não é valorizado. «A Federação Portuguesa de Pesca Desportiva tem três áreas específicas de atuação: mar; águas lentas, albufeiras, pistas de alto rendimento e águas correntes. Como sabemos, águas correntes situam-se no norte do país até à Serra da Estrela, o que quer dizer que, a nossa federação há muito que tem lutado por levar a pesca desportiva ao interior do país. Há muito tempo também que nos apercebemos que o litoral tem muita oferta e o interior até agosto, até virem os imigrantes passar férias a essas localidades, que depois se vão embora no fim do mês e até dezembro, há ali não sei quantos meses em que não há nada».
O Presidente da Federação Portuguesa de Pesca Desportiva realçou ainda que, são as pequenas localidades do interior, que enriquecem o turismo, uma vez que, pela curiosidade, o tal “burburinho quando se recebem competições”, a restauração fica completa e a hotelaria esgotada. Carlos Baptista defendeu que é preciso «semear para depois colher», e que os municípios e autarquias têm um papel fulcral em levar as competições a estas localidades, onde são esses turistas que contribuem para elevar a economia local, bem como, permitir a sobrevivência de muitas federações desportivas. «A nível externo, se a nossa federação não organizar por ano, pelo menos dois campeonatos do Mundo ou da Europa, não conseguimos verbas suficientes para uma estrutura destas, como é a nossa federação».
Luís Araújo reconheceu o bom trabalho que tem sido feito por parte de muitas federações, associações e instituições públicas, constatando ainda a dimensão que Portugal tem, e que cada vez mais é imperativo levar os turistas a todo o território, ao longo de todo o ano e de diferentes segmentos de mercado. «Temos apoiado a realização de um conjunto de eventos internacionais, temos divulgado a oferta que temos através dos diversos canais e nos media. As campanhas do turismo de Portugal por ano, chegam a mais de 170 milhões de pessoas. Em mais de 130 países». Mas apesar dos bons números, o Presidente do Turismo de Portugal identificou que é preciso olhar para o turismo com uma visão mais ampla e combater as lacunas existentes. «O passo que nos falta é conseguirmos criar uma rede que entenda a importância do turismo desportivo e que se trabalhe para isso».
Vítor Pataco concordou que a parceira entre o turismo e o desporto deve ser mais competitiva, e para isso, é preciso desenvolver “modelos cooperativos” para se avançar em conjunto. «O que acontece muitas vezes é que nós não nos conhecemos uns aos outros. As organizações não conhecem o papel de cada uma, e a primeira coisa a fazer para poder haver cooperação, é perceber qual é que é o âmbito de atuação de cada uma das organizações, e quais são os objetivos. E depois como é que se podem encontrar para cooperar num objetivo comum, dentro da diversidade de cada uma delas. É isso que estamos a tentar fazer».
Durante o debate, foi reconhecido que Portugal organiza mais de 100 eventos por ano. Só o surf, os chamados desportos deslizantes têm um impacto económico e financeiros imperial nas costas portuguesas. Porém, a grande parte dos contatos que são estabelecidos com o turismo de Portugal destacam apenas grandes eventos pontuais, como é o caso da Fórmula 1 ou uma organização de golfe, mas que por si só, são insuficientes, sendo necessário identificar outras situações para o bom funcionamento desta relação de cooperação. De acordo com o Presidente do Instituto Português do Desporto e Juventude, este modelo de cooperação pode acompanhar preocupações que são comuns a todas as áreas. «A questão dos objetivos de sustentabilidade defendidos na agenda 20/30, em que o próprio turismo e o desporto são contribuintes para o alcance desses objetivos. Deve haver alguma aproximação para que depois no futuro haja vantagens para todos».
Esta fusão, que ainda tenha um longo caminho a percorrer, agradou a Carlos Baptista que viu uma oportunidade para a incrementação da prática da pesca desportiva. «A disciplina do achigã, a embarcação, os Estados Unidos da América gastam milhões por ano nesta atividade desportiva e o nosso turismo americano em Portugal é muito diminuto, portanto, temos aqui uma atividade desportiva que eles adoram, e, no entanto, em Portugal, o turismo de Portugal tem de olhar rapidamente para algumas disciplinas da pesca desportiva porque tem aqui um potencial enorme». Luís Araújo reconheceu que há muito a fazer na ótica da venda, e a necessidade de se aproveitar mais, o melhor que há no país, dando o exemplo dos 14 centros de alto rendimento que existem em Portugal, extraordinariamente equipados e que podem ser um ponto de chamariz. «Percebermos que pode haver um potencial de crescimento aproveitando o que já existe e termos a capacidade de ligar os pontos». No que respeita à pesca desportiva, o Presidente do Turismo de Portugal reconheceu que «até pode haver muita procura, até pode haver muito interesse, mas não fazemos ideia porque não é o nosso métier de como é que chegamos lá».
Para Vítor Pataco, só através do conhecimento e da ligação, é que o turismo poderá beneficiar da movimentação de pessoas que o desporto permite em todo o Mundo. «É necessário combinar os interesses de ambas as partes numa lógica cooperativa, e essa ligação só pode acontecer com conhecimento». Identificado o ingrediente chave para que se possa transportar esta parceria de sucesso do papel para a realidade, o Presidente do IPDJ reconheceu ainda que, uma das áreas que hoje tem muito interesse para o desporto e também para o turismo são aquilo a que chamamos de ‘Green Sports´. «Há um grupo de trabalho onde o próprio Instituto Português do Desporto e Juventude tem uma representação Europeia, e hoje as pessoas movimentam-se muito em função de destinos ondem tem a oportunidade de fazer atividades relacionadas com a natureza». Neste sentido, olhar para este tipo de desporto, não só irá permitir recuperar receitas do setor turístico, como também combater a inatividade física. «Quando criamos ou alteramos o ambiente natural no sentido de, levar pessoas a utilizar aquele ambiente natural de uma forma ativa e sustentável, estamos a fazer isso para o nosso país, mas ao mesmo tempo, o turismo pode ajudar a divulgar em mercados externos a importância daqueles espaços naturais que podem ser atrativos», concluiu Vítor Pataco.
Através do desporto e de todas as áreas que lhe são subjacentes, a rúbrica “CDP Entrevista” tem como principal missão dar voz aos vários atores ligados ao setor desportivo, ao mesmo tempo que, contribui para identificar problemas e encontrar soluções para que o país continue a ser uma referência a nível nacional e internacional.
Fonte: CDP, 14/04/2021