CONFEDERAÇÃO DO DESPORTO DE PORTUGAL

Num ano particularmente difícil para o desporto, onde os seus principais protagonistas viram-se obrigados a interromper as competições, a rúbrica “CDP Entrevista” regressou para uma edição especial vestida de esperança em tempos de cólera, que contou com a participação do secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Paulo Rebelo, e do presidente da Confederação do Desporto de Portugal, Carlos Paula Cardoso.

Sob o tema: “Desporto! Que Futuro?”, o ponto de partida do debate recaiu sobre o recente apoio de 65 milhões de euros aprovado em Conselho de Ministros para o setor desportivo. Um plano de apoio extraordinário que, para o secretário de Estado da Juventude e do Desporto vem apaziguar a ansiedade vivida no setor. «Este plano de apoio extraordinário não tem nada que ver com a dita bazuca europeia que tem sido referida várias vezes, portanto, não estamos a falar de verbas que estarão no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). O PRR vai ter, ele próprio também, uma oportunidade, para o setor desportivo do nosso país, também se financiar. Anunciamos esses 5 milhões de euros que vêm reforçar programas do Instituto Português do Desporto e Juventude, programas emblemáticos do IPDJ, como sendo o Programa Nacional do Desporto para Todos, um programa dedicado à generalização da prática desportiva, à inclusão através do desporto, do desporto para as pessoas com deficiência, do desporto para os mais velhos, do desporto para os mais novos, do desporto informal e, entretanto, o programa de requalificação para infraestruturas desportivas». E apesar destas medidas significarem uma nova oportunidade para a maioria dos clubes e federações desportivas, João Paulo Rebelo não negou que o processo é moroso. «Nós queremos que aconteça o mais depressa possível, mas a verdade é, que nestes 30 milhões de euros, há uma componente aqui de fundos comunitários, há uma componente também de orçamento do estado, há um rigor que tem que haver como tudo o que é dinheiro público, o que nos obriga a fazer as coisas como devem ser, para que de futuro não haja inconvenientes. Entendemos particularmente que é agora numa fase de retoma desportiva que os clubes verdadeiramente mais precisaram destes fundos». Os restantes 30 milhões do bolo total de 65 milhões serão atribuídos a uma linha de crédito, do novo programa Federações +Desportivas, dirigida a federações com estatuto de utilidade pública desportiva.

Ciente das dificuldades que as federações desportivas têm sentido neste ano particular, o presidente da CDP, Carlos Paula Cardoso, começou a sua intervenção referindo que os «apoios agora apresentados são positivos, mas pecam por tardios, uma vez que ao longo deste ano o movimento associativo tem passado por inúmeras dificuldades, podendo mesmo nalguns casos, colocar em causa o futuro. Temos a consciência que os clubes de base que, afinal são aqueles que no dia-a-dia do seu trabalho recebem os mais jovens, e trabalham os mais jovens para uma carreira desportiva, sem eles não teremos o desporto a alto nível». Uma linha de pensamento também defendida por João Paulo Rebelo, para quem, os clubes base local são a célula do sistema desportivo, e por isso mesmo, terão os apoios necessários ao setor. «Nunca nos passaria pela cabeça que tivéssemos medidas de apoio que não passassem por esta célula base, pelos clubes base local, e, portanto, e daí a resposta destes 30 milhões de euros, volto a frisar, a fundo perdido».

Questionado sobre o futuro do desporto, João Paulo Rebelo apenas acredita numa coisa. «A maior certeza que o futuro próximo nos reserva, é a enorme incerteza sobre ele próprio». De acordo com o plano de desconfinamento divulgado pelo Governo a 11 de março, e durante a conversa com o presidente da CDP, o governante esclareceu que as provas poderão ser retomadas gradualmente e mediante o grau de risco associado: as de baixo risco, todas individuais, a partir de 5 de abril, as de médio risco em 19 de abril e as de alto risco em 3 de maio. «É evidente que temos competições. Nas modalidades individuais, temos competições a partir de 5 de abril, tenham as federações condições para isso. A partir de 3 de maio, temos todas as competições. Isto depende da evolução epidemiológica, do número de casos, da propagação do vírus». Nas palavras do secretário de Estado, o problema não é a retoma das competições, mas sim evitar que essa retoma tenha consequências abrutas. «Está-se a avaliar se é pertinente começar logo as competições em 19 de abril. Não me parece que seja logo adequado, porque os atletas não vão estar logo em condições de competir. E também temos a questão da mobilidade entre territórios. A ideia é que, nos primeiros 15 dias, não haja competições inter-regionais no país», explicou. Carlos Paula Cardoso, por sua vez, «defendeu que o retorno, agora previsto, é decisivo para o futuro próximo do desporto de formação, para que no final deste processo os jovens possam regressar ao desporto formal e o desporto consiga superar mais esta fase negativa, como conseguiu em momentos marcantes da história nacional e mundial no último século.»

Embora descreva a pandemia «com uma tragédia» que abalou fortemente o Mundo, a sociedade e o desporto, João Paulo Rebelo defendeu que a prática desportiva dos atletas profissionais, de alto rendimento, nunca esteve posta em causa. «Estamos em plena preparação para os jogos olímpicos e paralímpicos. Neste momento o que está a ser discutido com a Direção Geral de Saúde, com as autoridades de saúde, é a orientação 036/2020 que permite no fundo, que todo o desporto aconteça». Publicada em agosto do ano passado, esta orientação faz referência às modalidades coletivas, e apenas permite que na época desportiva em vigor, apenas começassem os escalões seniores das diversas modalidades. Todo o resto das modalidades individuais, quer do ponto de vista do treino, quer do ponto de vista da competição, estiveram sem restrições. Há de fato um compromisso com as autoridades de saúde, e nos próximos dias será conhecida a revisão à orientação 036/2020 da DGS».

O presidente da CDP «espera que os contributos dados pelo movimento associativo sejam tidos em conta e aceites na futura orientação, uma vez que somos nós, representantes do movimento associativo, que melhor conhecemos as especificidades das várias modalidades desportivas»
Interrogado sobre as várias dúvidas do apoio do Governo ao setor desportivo, o secretário de Estado da Juventude e Desporto alertou que por vezes se sente ‘triste’ para as pessoas não ser óbvio que, este tema é de enormíssima relevância. «Não há ninguém mais do que eu que queira que retomem as atividades desportivas e particularmente, os escalões de formação».

Questionado, sob o repto do presidente da CDP, da intenção do movimento associativo realizar uma campanha nacional de promoção do desporto, João Paulo Rebelo confirmou o total apoio do Governo nessa iniciativa. «Conta com 65 milhões de apoios». Para o governante, os 30 milhões a fundo perdido para os clubes, servirá para se reconquistar os atletas que, entretanto, se perderam ao longo deste tempo, mas também permitirá aumentar o número de atletas na prática desportiva. «Tenho confiança no trabalho que todos faremos para que isso aconteça. O Portugal 2030 que é o quadro financeiro plurianual que se seguirá ao Portugal 2020 está a ultimar as suas execuções financeiras. O Governo tem mesmo o objetivo que Portugal em 2030 esteja entre as 15 nações mais ativas da Europa e vamos aproveitar o PT 2030 para isso».

Transversal a todas as nações, o desporto é um dos setores que mais tem sofrido com esta pandemia. Curiosamente, «no ano 2020/2021 as receitas da FIFA foram maiores em video gaming do que na prática desportiva», relevou o presidente da Confederação do Desporto de Portugal.

E a propósito do regresso dos atletas às competições desportivas, outro dos temas que mereceu destaque foi o regresso do público aos grandes eventos, entre eles, o Grande Prémio de Fórmula 1, agendado para dia 2 de maio e a impossibilidade de isso acontecer. Sob a matéria João Paulo Rebelo não se mostrou familiarizado, afirmando que as autoridades de saúde estão a definir em que parâmetros é que será feita essa retoma. «O público faz parte do espetáculo desportivo. Nós queremos muito que o público retome, agora há que fazer aqui um equilíbrio. Há aqui uma ideia força que perpassa toda a nossa conversa, que é este equilíbrio entre a nossa saúde individual, a nossa saúde coletiva, a nossa saúde pública, e o dito retomar da vida como a conhecíamos antes desta pandemia. Acho que merecemos a confiança das autoridades de saúde para que efetivamente o público retome o mais depressa possível». Carlos Paula Cardoso secundou as palavras do SEJD, relativamente à importância do regresso do público aos recintos desportivos o mais breve possível, mas em segurança.

Sob o princípio “saúde pública acima de tudo”, o secretário de Estado fez um apelo geral a todos os portugueses. «A responsabilidade cabe a cada um de nós, cumprir escrupulosamente as orientações que nos são dadas, e termos comportamentos responsáveis para não pormos em perigo tudo o que conseguimos nos últimos tempos. Este combate à pandemia ganha-se com muita solidariedade entre todos». Já Carlos Paula Cardoso enalteceu o povo português e a capacidade de ultrapassar adversidades através do desporto. «Não podemos esquecer que no final da 2ª Guerra Mundial, um ano depois estávamos a preparar os Jogos Olímpicos de 1948, portanto, digamos que o desporto tem dado esse exemplo, e ainda mais, estou convencido que quando ultrapassarmos esta questão dos confinamentos, será o desporto com as suas vitórias que irá aumentar a autoestima dos portugueses».
Os debates quinzenais da “CDP Entrevista” realizam-se às terças-feiras, pelas 21h, com transmissão em direto no Facebook da Confederação do Desporto de Portugal, com vários convidados e temáticas pertinentes, onde o setor desportivo nacional é o principal protagonista.

Fonte: CDP, 24/03/2021