No debate desta semana tivemos presentes José Uva, treinador de atletismo, Sidónio Serpa, especialista em psicologia do desporto, Francisca Laia, atleta de canoagem e Liliana Pitacho, docente e investigadora, para debater o papel que a saúde mental tem no desporto e o impacto que o desporto tem na saúde mental.
Para dar o mote de arranque ao debate, Liliana Pitacho, uma das responsáveis por uma investigação que analisou o impacto que a suspensão dos campeonatos, dos treinos e das rotinas habituais dos atletas, teria na saúde mental, averiguando os níveis de stress, de perturbação de sono e níveis de felicidade. Em conclusão “acima de 50% dos atletas que participaram no estudo, quer atletas de formação, quer atletas dos níveis de competição, apresentaram níveis patológicos de stress, também perturbações de sono (acima dos 40%), com impacto na saúde (…) e quebras grandes de felicidade (mais de 70%”).
Na sua intervenção, Sidónio Serpa alerta que “os aspetos psicológicos e a saúde psicológica (…) é tão importante quanto a saúde física, mas ao contrário dos outros aspetos, a saúde psicológica não é tida em conta por parte dos atores que interferem com poder no processo de treino desportivo, designadamente as organizações desportivas” e mostra-se preocupado por “o atleta seja considerado como pessoa e não sejas postas ao seus dispor todos os instrumentos que lhe permitam desenvolver-se enquanto pessoa e que permitam defender-se do ponto de vista psicológico”.
Neste seguimento, José Uva, enquanto treinador, defende que atualmente, face às equipas reduzidas, “o treinador faz todo o papel de fisioterapeuta, biomecânico, psicólogo, etc.”
A atleta Francisca Laia assegura que “os atletas são muitas vezes vistos como máquinas, que têm de estar preparados para naquele dia, aquela hora, executar a tarefa para a qual treinámos durante muito tempo.” Considera ainda que é importante ter “uma equipa multidisciplinar e principalmente os treinadores terem esta abertura para incluir outros profissionais de outras áreas no seu trabalho”.
Complementando as intervenções anteriores, Liliana Pitacho afirma que “não se tem investido neste desenvolvimento [de competências de gestão emocional], não só por parte do desporto em si, mas de uma forma global.”
Mas para José Uva, “quando o rendimento é a questão principal e a superação está presente no nosso dia-a-dia, todas as componentes do ser humano são passíveis de ser trabalhadas”, portanto “temos de preparar os nossos atletas em todas as vertentes da sua parte psicológica, da sua parte física, da sua parte técnica”.
Francisca Laia, que afirmou já ser acompanhada por uma psicóloga, acha que é “realmente importante começar a desenvolver essas competências cada vez mais cedo e, já demos alguns passos importantes, mas acho que é preciso dar cada vez mais passos e antecipar estes problemas que algumas vezes surgem na alta competição”.
Para a semana chega novo tema e novos convidados que prometem abordar mais um tema com grande impacto na comunidade desportiva, como sempre às 19h, no facebook da Confederação o Desporto de Portugal.
Fonte: CDP, 23/10/2020