Na passada edição da rubrica “CDP Entrevista” estiveram presentes José Lima, Coordenador Plano Nacional de Ética no Desporto, Miguel Nery, responsável pelo projeto Desporto sem Bullying, Anabela Reis, vice-presidente da CDP e a basquetebolista Sara Djassi, para apurar se o bullying no desporto é verdade ou mito.
Miguel Nery começa por esclarecer o conceito de bullying e incita à discussão em volta do “abuso sistemático de poder entre atletas, como também do treinador em relação aos atletas”. Já José Lima, acrescenta as vertentes verbal, física e social do bullying que coexistem no desporto.
Anabela Reis afirma que “a perceção que nós tínhamos era de que havia bullying no desporto, mas não tínhamos provas. Sempre que falávamos com as federações, principalmente com os nossos associados, nunca havia uma resposta clara” e alerta porque, na sua perceção, “aquilo que se passa no desporto, em Portugal em relação ao bullying (…) é o mesmo que se passa em toda a Europa. Os casos existem, podemos pensar que estão a crescer, mas não são divulgados. Os atletas, precisamente porque isto é um abuso de poder (…) não denunciam ou raramente denunciam os casos”.
Contando a história na primeira pessoa, Sara Djassi começa a sua intervenção desvendando que “um dos primeiros sinais foi a linguagem utilizada e os gestos obscenos do treinador e foi claro para mim”. “As minhas primeiras reações era olhar à volta e ver a reação dos outros, para ver se era eu a única que estava a ver a mesma coisa”. “Acho que eu ter sido aquela que disse “não, não falas assim connosco” isso depois tornou-me indefesa e colocou-me numa posição contra mim”.
Para contrariar estas situações, José Lima sugere falar-se sobre o tema e apostar-se na prevenção, uma vez que “o desporto tem um contexto muito específico, há contacto físico, há uma certa condescendência de expressões, de gestos, de toques que o desporto possibilita e desculpabiliza, de uma forma errada, por isso devemos combater isto.”
Referindo-se às situações onde já decorreu uma situação de bullying e é preciso tomar consciência do que é preciso fazer para resolvê-la , Miguel Nery refere que “nós não conseguimos resolver uma situação destas que é tão complexa com medidas isoladas, precisamos ter programas nos clubes e para isso acontecer, precisamos ter as políticas feitas, passar por organismos intermédios e fazer uma sensibilização progressiva da comunidade desportiva”.
Para ajudar os atletas que já passaram pelo mesmo, Sara Djassi sugere mais empatia e que deve ser o próprio atleta a tomar iniciativa e a pedir ajuda “e quando o atleta dá o primeiro passo, tem de sentir que alguém está com ele a agarrar, a mostrar e a utilizar a tal empatia de forma positiva”.
Para a semana novo tema e novos convidados, que trarão um debate pertinente na área do desporto. Todas as quartas-feiras, às 19h, no Facebook da Confederação do Desporto de Portugal.
Fonte: CDP, 02/10/2020