CONFEDERAÇÃO DO DESPORTO DE PORTUGAL

«O desporto tem o poder de mudar o mundo», disse-o Nelson Mandela, quando usou o desporto para mudar a mentalidade de uma nação, e voltou a repeti-lo João Capela, enquanto falava de ´Bullying no Desporto´ aos alunos do curso profissional técnico de apoio à gestão desportiva da Escola Secundária Maria Amália Vaz de Carvalho, em Lisboa, num debate de que a CDP foi parceira.

Para o árbitro internacional de futebol, perceber o desporto e entender o que ele representa, é o pontapé de saída para conseguirmos evitar o ´bullying´ e promover o ´fair play´.

João Capela, que a par do futebol é também embaixador do Plano Nacional de Ética Desportiva, chamou a atenção dos jovens para uma questão eminente: «Vocês vivem na escola o primeiro Big Brother». Um dos principais motivos de ´bullying´ é a exclusão social, e a escola e o desporto têm o poder de tornar o ser humano um ser social, bem como fomentar a relação e a comunicação entre todos.

«O desporto na base, na formação, tem de ser uma forma de as crianças se sentirem felizes. O desporto não pode ser bullying, o desporto não pode ser pressão, o desporto não pode ser o cristianismo…». O árbitro de futebol distinguiu o papel dos pais na relação dos jovens com o desporto, principalmente no futebol, e a forma como muitos pais vêm os filhos como um ativo financeiro, que «vão ser o próximo Cristiano Ronaldo e ganhar dinheiro».

João Capela deu como exemplo a sua experiência, admitiu ter sido um jogador frustrado, que não conseguiu chegar à baliza da seleção nacional. Contudo, «foi o desporto que me fez ser a pessoa que sou hoje». Na arbitragem encontrou um novo foco, aprendeu a ser um líder e tornou-se uma pessoa melhor.

Na despedida, João Capela deixou uma reflexão de Eça de Queiroz aos alunos da ESMAVC. «Não tenha medo de pensar diferente dos outros. Tenha medo de pensar igual e descobrir que todos estão errados».

Apesar de o ´bullying´ ser uma questão transversal a todas as modalidades, ainda hoje se apresenta como uma realidade que ainda é tabu no desporto. «Os clubes estão a mudar, já não é só um sítio onde as pessoas vão fazer desporto, mas sim um local que promove o desenvolvimento dos atletas, e onde o treinador assume cada vez mais o papel de educador». Miguel Nery, professor e psicólogo, tentou explicar aos alunos onde é que o ´bullying´ acontece no desporto, quem o pratica, que tipos de ´bullying´ existem e quais as suas consequências, baseado na sua tese de doutoramento, que na sua génese contou com a participação de 1500 atletas de modalidades coletivas, individuais e de combate.

Miguel Nery resumiu a questão do ´bullying´ como uma «coisa entre pares». O ´bullying´ só existe quando um dos intervenientes tem mais poder em relação ao outro.

Com base na sua investigação, o docente da Faculdade de Motricidade Humana explicou que os ´bullies´ são por norma os atletas mais ativos fisicamente, na escola são os mais populares e com o estatuto social mais elevado, e que tendem a atribuir as culpas aos colegas.

«Há muita coisa que na escola não é aceite e que no desporto é, porque o desporto tem uma mentalidade muito particular (…). O desporto está muito ligado ao gozo com a performance física, as questões relacionadas com o corpo e a sexualidade, principalmente entre os rapazes». Miguel Nery acredita que o ´bullying´ acontece em qualquer modalidade, independentemente de serem crianças ou adultos que o pratiquem, mas destacou o futebol, como um meio onde ainda não se pode falar. «Já pensaram porque é que ninguém fala de homossexuais no desporto? Ninguém fala da homossexualidade no futebol, porquê? Não há? Com tantos homens a praticar?»

“Ser gordo, pertencer a uma minoria ética, ser homossexual” são alguns dos fatores de risco que impulsionam o ´bullying´, e por consequente levam à mudança de clube ou abandono da prática desportiva.

Fonte: CDP, 23/01/2018

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