CONFEDERAÇÃO DO DESPORTO DE PORTUGAL

carlos-cardoso“Grândola vila morena; Terra da fraternidade; O povo é quem mais ordena; Dentro de ti ó cidade”
Passam depois de amanhã quatro décadas desde o dia em que estas estrofes, então proibidas, num país mundialmente ostracizado em que, na verdade, quase tudo era proibido para garantir a mediocridade que um provincianismo bacoco insistia em fazer perdurar, foram o santo e a senha que cortaram com o passado e abriram as portas à mais profunda alteração social que Portugal experimentou, praticamente em todos os setores, no século XX.


O desporto como fenómeno social era uma das áreas mais espartilhada. Intromissão do poder ditatorial nas suas atividades desde a obrigatoriedade de submeter à aprovação ministerial dos órgãos eleitos para os corpos diretivos do movimento associativo, até à intromissão nas próprias seleções nacionais que teve o expoente máximo quando, em 1948, os atletas Tomás Paquete e Matos Fernandes foram impedidos de se deslocar aos Jogos Olímpicos de Londres por serem de raça negra!

A abertura de mentalidades, a par da Liberdade que Abril trouxe, permitiu ao desporto nacional “ganhar asas” e começar em várias modalidades, com especial destaque para o atletismo logo nos anos setenta e oitenta, a ser tão bom como os melhores. Os êxitos não se fizeram esperar!

Celebrar Abril é pois, também desportivamente, um dever, para que o passado ainda recente de apenas quatro décadas não se olvide e não seja possível, sobre qualquer pretexto, que o país limitado e espartilhado do pré-Abril ressuscite.

Infelizmente parece ser isso que alguns dos nossos parceiros europeus nos querem impor. Assim depois de começar com a esperança que Abril abriu, acabo parafraseando Luís de Camões, que quase no fim da sua obra épica nos ensina: “Fazei, Senhor, que nunca os admirados; Alemães, Galos, Italos, e Ingleses; Possam dizer que são para mandados; mais que para mandar os portugueses….” 

Fonte: A Bola, 23/04/2014

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