Dois mil e vinte e dois chega ao fim!
“Ainda bem” ou “É pena”?
Depende evidentemente dos pontos de vista de cada um, mas refletirá sentimentos opostos em relação a um ano que nos proporcionou momentos bem diferentes. Aquilo que podemos escrever hoje, aqui, será muito diferente, para melhor, do que escreveríamos há trezentos e sessenta e cinco dias atrás? Sim? Não?
Meditemos, ou melhor, recuemos um pouco.
Em finais de dezembro de 2021 o país procurava sair o mais rapidamente, e o melhor possível, de dois longos anos de aguda pandemia. O desporto tão martirizado e incompreendido que foi ao longo desse negro período da curta história deste século procurava, sem esquecer o que passara, recuperar o tempo perdido e mostrar à sociedade em geral que a resiliência que caracterizara o seu exponencial crescimento, ao longo do todo o século XX, se mantinha incólume e possibilitaria uma recuperação do seu esplendor.
O desporto vivera e, estamos certos, continuará a viver nos próximos tempos, de períodos deveras desafiantes. De facto, desde o início de 2020, o mundo foi abalado por um conjunto de acontecimentos inesperados que colocaram em causa a sua estabilidade. Primeiro a pandemia, que o fez quase parar e nos deixou danos irreparáveis nos mais diversos sectores de atividade e, mais recentemente, uma guerra na Europa que abalou a economia global, incrementando uma inflação já latente, para valores muito acima do espetável e cujo real impacto não é ainda verdadeiramente mensurável.
O horizonte que, no início de 2022, imaginávamos seria finalmente azul, toldou-se com o decorrer do ano.
Assim antes de olharmos para o futuro e para os obstáculos que obrigarão o desporto a reinventar-se e encontrar estratégias para garantir a sua sobrevivência, é hora de fazer uma retrospetiva do ano que agora finda. O tal ano que, há trezentos e sessenta e cinco dias que, quando comparado com o passado recente, ansiávamos que fosse “azul” e acabou por revelar afinal diversos cenários negativos, tendo, apesar de tudo, reais momentos marcantes para o seu desenvolvimento em geral assim como no âmbito da Confederação do Desporto de Portugal (CDP).
A concretização, em abril, do primeiro Congresso Nacional do Desporto o qual reuniu várias figuras de relevo do sector, após dois anos de adiamento devido à pandemia, proporcionou um momento diferente para se discutir temas fulcrais e pensar de um modo mais abrangente sobre o desporto que pretendemos ter em Portugal.
O Congresso, permitiu além disso que se desse continuidade ao trabalho que fora feito nas Cimeiras dos Presidentes e nas reuniões da Rede Colaborativa e constituiu oportunidade única e pioneira, que acreditamos faltava, para ajudar na definição de um caminho para serem desenhadas linhas estratégicas e de orientação para o setor.
Foram partilhadas opiniões e visões diversas sobre o fenómeno desportivo cujas conclusões principais indicaram a quebra de praticantes e até de clubes que a pandemia provocara. Aliás, dados recentes do INE revelaram a quebra no número de clubes e praticantes na ordem de menos 3,2% clubes e menos 14,7% de praticantes, mostrando que um dos principais focos do desporto nacional deve ser precisamente o criar de estratégias que permitam recuperar, e ultrapassar mesmo, o número de praticantes, algo fundamental para a sobrevivência de clubes, associações desportivas e em resumo para todo o tecido desportivo nacional.
Não devemos esquecer ou ter dúvidas dos valores que a prática desportiva generalizada, mas sobretudo a competitiva, incute no desenvolvimento de seres humanos com motivação para enfrentar quaisquer desafios que a vida lhes apresente e da relevância que tem em termos de saúde em geral, com os hábitos saudáveis que garante a todos os seus praticantes, e saúde mental, devendo ser o principal aliado na sua preservação. Este dado, foi aliás, uma das bandeiras dos planos de recuperação da COVID-19, de vários países europeus. Apesar desta realidade e desafio, foram vários os oradores que ressalvaram o sucesso que o desporto português continua a ter.
De facto, 2022 salientou-se como um ano de conquistas, no que aos resultados internacionais diz respeito, para o nosso país nas mais diversas modalidades, quer em campeonatos europeus, quer mundiais, mostrando que, mesmo na adversidade, o setor de desporto é quele que na realidade mais promove o nome de Portugal a nível internacional.
Ainda a nível internacional, a CDP continuou, e continuará, a estar presente na discussão dos principais temas do setor, nomeadamente ao nível da igualdade de género, da sustentabilidade e da integridade através de jovens embaixadores.
Olhar para 2023 levanta diversas interrogações. São mais as dúvidas que as certezas. As respostas a temas fundamentais que se esperavam do Governo português tardam em aparecer, muito embora não devamos aqui esquecer que no seguimento de eleições legislativas se verificaram alteração importantes ao nível das cúpulas e certamente também em algumas políticas para o setor.
O financiamento previsto para o próximo ano continua em valores inferiores aos de 2019, no período pré-pandemia. Ao contrário de outras áreas, os apoios específicos e extraordinários não surgiram até agora nem há previsão que possam vir a aparecer apesar de algum reforço financeiro, por parte o IPDJ, às federações em finais do ano. Como irão as federações, associações, clubes e demais entidades do sector fazer face à subida repentina da inflação? Como irão responder aos custos elevados da energia que poderão sufocar e colocar em risco a lenta retoma, pós-pandemia, mas mais importante a sua sobrevivência? As perguntas acumulam-se e as respostas tardam!
O desporto não pode ser uma espécie de parente pobre da sociedade portuguesa que sobrevive graças ao maior ou menor entusiasmo que os portugueses colocam na participação nos jogos sociais, para além das parcelas do bolo total para o sector, serem consideradas injustas, desproporcionais e incapazes de nos permitir aproximar de realidades existentes em outros parceiros europeus.
São, na realidade, vários os exemplos de países europeus com os quais Portugal, em termos de dimensão geográfica e populacional, inevitavelmente se compara, mas dos quais, em termos do impacto social e económico continuamos longe. Atualmente, o desporto português apresenta menos de metade dos resultados desportivos da média dos países com dimensão geográfica e populacional semelhante à nossa, o que se aplica também ao desenvolvimento desportivo. No plano financeiro, o desporto português apresenta praticamente um terço da média de financiamento dos restantes países, situação que compromete, mais uma vez, o desenvolvimento desportivo e a obtenção de melhores resultados em campeonatos mundiais ou europeus.
Podemos ter os melhores projetos, o melhor planeamento, mas deve ser no domínio do financiamento das políticas públicas que o desporto deve encontrar as suas principais fontes. Não devemos nunca deixar de ter presente que ao Estado diz respeito cumprir o estabelecido no Artº 79 da Constituição da República, que estipula:
1. Todos têm direito à cultura física e ao desporto.
2. Incumbe ao Estado, em colaboração com as escolas e as associações e coletividades desportivas, promover, estimular, orientar e apoiar a prática e a difusão da cultura física e do desporto, bem como prevenir a violência no desporto.
Potenciar o envolvimento e participação dos jovens, captar mais mulheres, quer ao nível da prática quer ao nível do seu papel interventivo, são pontos que consideramos centrais para o futuro do desporto nacional.
Estamos certos de que 2023 voltará a trazer várias alegrias no plano desportivo nas mais diversas modalidades. Os talentos que o desporto português continua a produzir são um garante de sucesso, pelo que olhamos com grande entusiasmo para o próximo ano.
No que diz respeito à atividade da CDP, teremos a organização da 6ª edição da “European Sport Plattform” (ESP) sob a égide da ENGSO (European Non-Governmental Sports Organisation), que decorrerá nos dias 13 e 14 de outubro. Esta iniciativa, que conta com as importantes conclusões de dois projetos europeus, nos quais a CDP também participa, trará a Lisboa um conjunto de personalidades do desporto, cujas intervenções e discussões associadas muito contribuíram para o enriquecimento do conhecimento e resultará em conclusões com relevância na esfera política europeia.
Mas antes, no início do ano, teremos uma vez mais a organização do evento de premiação dos melhores do desporto nacional, a Gala do Desporto. Um momento incontornável para o setor, que reunirá as mais importantes figuras do desporto português, numa noite de reconhecimento e glamour. A edição deste ano, introduz mais uma categoria de prémio dedicada ao “Desporto Adaptado” a qual consideramos justíssima em face do trabalho e do desenvolvimento, que neste setor vem sendo realizado.
Será também um ano em que voltaremos a reunir os diversos atores do setor para discutir o presente e o futuro do desporto português na segunda edição do Congresso Nacional do Desporto. Após o pontapé de saída, em 2022, de um encontro que se pretende que tenha raízes duradouras no panorama desportivo português, na edição do próximo ano as federações desportivas já asseguraram que irão marcar uma posição forte na defesa dos seus interesses e do seu setor em geral, neste período social tão conturbado.
Este trabalho começará logo no início de 2023, com a definição de uma estratégia de ação que envolverá os vários presidentes de federação e importantes intervenientes do movimento associativo desportivo.
Por fim, referir que no próximo ano assinalam-se os 30 anos da Confederação do Desporto de Portugal, um marco para a instituição. Ao longo destas três décadas, a CDP procurou ser sempre um parceiro ativo e liderar por um melhor desporto nacional, lutando ao lado dos seus associados pela defesa dos seus interesses e pela promoção do desporto. Continuaremos a tudo fazer, para desempenhar essa função e, simultaneamente, olhando para dentro visando a modernização da CDP e uma maior proximidade com a sociedade portuguesa.
#umaconfederacaoumavoz
Fonte: CDP/A Bola, 28/12/2022